terça-feira, 22 de abril de 2008

Como balão

Inspirar.
Inspirar lenta. Inspirar profunda.
Encher os pulmões de ar.
Cada pequeno espaço, encher de ar.

Inspirar. Tudo por dentro se transformar em ar.
Inspirar. E que o ar transcenda.

Inspirar. Permitir-se que o ar transcenda.

Inspirar. A carne virar ar. O sangue virar ar. Brisa interna.

Inspirar. Inspirar. Inspirar.

Quando tudo for ar, explodir.

E ser ar.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Apontuado

Devo ter nascido nas redondezas de um advérbio incerto, no meio de uma afirmativa prolixa, “hiperbática” e tetricamente subjuntiva; deslocado e sem vírgulas. Solto. Não influindo, talvez confundindo (pouco). Ah, mas, graças!, não foi um de modo, com todas as suas mentes. Foi um daqueles discretos: ao certo, não deve ter sido notado.

Tivesse nascido eu antes de uma exclamação, num grito de fúria, ódio ou alegria! De impulsividade.

Ou ainda na pura prepotência de uma interrogação.

No unilateralismo de um após travessão.

Por baixo, que tivesse nascido no exíguo espaço entre duas vírgulas quaisquer, no espaço místico das aspas aladas ou no aconchego dos braços dos parênteses. Numa última opção, me equilibrando sobre um ponto e vírgula.

Queria mesmo o pico de uma vírgula obrigatória, de um ponto parágrafo ou de um ponto final e fim.

(suspiro)

Pois que fosse, logo e então, oriundo desgraçado da insaturação de uma frase reticente...