Não escaparei da tarefa de transcrever(-me) a virada de ano. Faltam apenas três dias para o ano-bom (gosto dessa expressão, remota positividade e esperança): data-se 28 de dezembro de 2008. Encaro que não me custa nada umas tantas palavrinhas frente ao momento dialético, passado e futuro, velho e novo, penas e promessas, adeus e olá. Um dia que termina como outro qualquer, outro que começa como outro qualquer. E que carrega tanto, carrega tudo... Parei e pensei (como fazemos todos quando nos deparamos com o final) no ano que foi, no ano que vem. Sim, passou rápido; não, custou a passar. Tenho aqui, então, um epitáfio a 2008 e minhas salvas a 2009.
A 2008. 2008 não foi o melhor ano de minha vida, e isso não é um eufemismo para dizer que foi ruim, ou pior, o pior. É uma simples constatação. Tenho a sensação de que houve outros anos que foram melhores e que à época, inconsciente e infantilmente, enchi a boca e pronunciei, de mim para mim, que foi “o melhor ano de minha vida”. Repito, 2008 não foi o melhor, ressalvo, nem o pior ano de minha vida. (Significa algo? Significa muita coisa e talvez signifique nada). Foi 2008. Um dois, dois zeros e um oito. Não virá outro desses (um “nunca” caberia aqui sem receio algum, basta ajeitar a sintaxe).
Seria hipócrita se disser que olharei lá da frente para o ano que passa orgulhoso, contente, saudoso. Errei; pequei (os meus pecados, não os dos outros); esbarrei-me; feri-me e inflamou (dor, rubor, calor, edema); chorei, sim, como jamais chorara. Foi difícil, ruim.
Mas que eu não seja ingrato para com o zero-oito. Não passei incólume, com certeza não. Mas desinflamou; o tecido regenerou.
Mudei, sinto-me diferente, percebo ao mundo e a mim de forma distinta de outrora (umas viseiras que foram tiradas). Mudei exponencialmente. Nunca me experimentei tal qual agora. Cresci? Se sim, se não, não sei. Mas gosto assim, 2008; assim, cá como estou. Sinto-me, sei lá, mais completo (?), mais próximo de mim (?); sinto-me bem, mesmo que uma vozinha interior diga-me que continuo tal qual antes, mas sinto-me bem. Daí tira-se a importância desse dois-zero-zero-oito. Epitáfio: nem o pior, nem o melhor.
A 2009. Acredite quando eu digo que não embarco em 2009 com expectativas, planos, ambições. Até o presente momento não escrevi nenhuma lista de intenções para 2009 (ler mais, escrever mais, continuar malhando, flee this town, entrar menos na Internet, ser mais sociável, ser menos sociável, etc.), nem pretendo escrevê-la. Não critico os que as fazem, talvez aqueles que as fazem e largam-nas nas gavetas para nunca mais, mesmo assim observe o talvez. Sei da importância de possuir objetivos. (Não devo esquecer que a apatia de um dia não vale a vida e as possibilidades de um ano).
Mas sim, vestirei roupa nova na virada, na cor certa, pularei sete ondas (espero que assim seja possível), infelizmente esqueci-me das romãs, pensarei positivo (sempre, sempre, sempre: compromisso), entrarei em ressonância (tipo física) com as energias que fluirão no momento místico em que a Terra completar sua volta em torno do astro-rei. Saúdo, sim, um tanto apático e com sorriso levemente amarelo, 2009; mas subjetivamente esperançoso, carrego a esperança puramente sensitiva, aqui dentro de mim: saúdo-o passarinho, passarinho. (Encerro aqui antes que me torne mais incompreensível) .
Meu adeus a 2008, um beijo na testa e um afago carinhoso nos cabelos.
Minhas boas-vindas a 2009, em suave reverência, alas abertas; que venha, mas que o primeiro passo seja com o pé direito.