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– Quero falar-te disso. Peço que escutes e compreenda. Saibas que se, ou quando, fores, não chorarei, não sofrerei, não cairei. – Não, não quero pintar-me de independente, ou de forte (quem dera fosse), nem quero obviamente que vás, bem sabes – Para, que não é hora de teus jogos. Escuta – É que não somos feitos da mesma matéria – pois claro que sou sentimental, não é isso... escuta... tu sabes, sou inteiro sentimento – não somos feitos da mesma matéria: tu, assim, disforme, tão água, líquido e éter, frágil, na iminência de sofrer (Tão frágil, tão doce). Pois que eu não; sou tronco de um carvalho esquecido à eternidade, calo, casco de tartaruga – sim, ainda que mole por dentro, mas escuta. Não serei viúva de tua partida, por mais que não me refaças... É isso, quando, ou se, fores não me desfarei. Seguirei, assim, inteiro, íntegro, tronco-calo-casco; continuarei sendo. Não ruirei. (Talvez, justamente, por tu não me ruir, de tanto continuar sendo, é que virarei pó). – Calma, terás minhas razões; nunca te fui inconsequente; e quero que te fique claro, e que não tenha dúvidas sobre aquilo tudo que não nomeamos, mas que percebemos e sabemos e sentimos – Não, não digo isso para amedrontar-te, aprisionando-te a mim. Sei do poder do medo (eu que só sei dos medos) e não tenho a pretensão de domá-lo e subjugá-lo às minhas vontades. Digo para avisar-te. E aviso-te por conta de tuas novas manias de incertezas (tão infantis e detestavelmente envolventes. Mas não te culpo, como jamais culpei). Aviso-te para que sejamos sinceros um com o outro – tu que tanto gosta de verdades como apregoa por aí (mas que sempre desfila com uma máscara na face). Mas, sobretudo, aviso-te, porque quero livrar-me de ser o responsável, o Pequeno diante da Raposa. Porque já não levo comigo mais fardos, eu que um dia os carreguei aos montes, me firmando, me sustentando, me movendo em carregá-los; fardos, pesos, cruz, cargas, responsabilidades, estorvos que me racionalizavam; eu que não sabia ser (eu que ainda não sei). Prometi-me não mais levá-los; carrego apenas meu corpo e minha alma, que cá me bastam, e me superam (e me transbordam). – E tu, tu que não me és fardo ou peso, tu que me és graça, pois tu, é essencial que compreendas meu aviso.
– Quero falar-te disso. Peço que escutes e compreenda. Saibas que se, ou quando, fores, não chorarei, não sofrerei, não cairei. – Não, não quero pintar-me de independente, ou de forte (quem dera fosse), nem quero obviamente que vás, bem sabes – Para, que não é hora de teus jogos. Escuta – É que não somos feitos da mesma matéria – pois claro que sou sentimental, não é isso... escuta... tu sabes, sou inteiro sentimento – não somos feitos da mesma matéria: tu, assim, disforme, tão água, líquido e éter, frágil, na iminência de sofrer (Tão frágil, tão doce). Pois que eu não; sou tronco de um carvalho esquecido à eternidade, calo, casco de tartaruga – sim, ainda que mole por dentro, mas escuta. Não serei viúva de tua partida, por mais que não me refaças... É isso, quando, ou se, fores não me desfarei. Seguirei, assim, inteiro, íntegro, tronco-calo-casco; continuarei sendo. Não ruirei. (Talvez, justamente, por tu não me ruir, de tanto continuar sendo, é que virarei pó). – Calma, terás minhas razões; nunca te fui inconsequente; e quero que te fique claro, e que não tenha dúvidas sobre aquilo tudo que não nomeamos, mas que percebemos e sabemos e sentimos – Não, não digo isso para amedrontar-te, aprisionando-te a mim. Sei do poder do medo (eu que só sei dos medos) e não tenho a pretensão de domá-lo e subjugá-lo às minhas vontades. Digo para avisar-te. E aviso-te por conta de tuas novas manias de incertezas (tão infantis e detestavelmente envolventes. Mas não te culpo, como jamais culpei). Aviso-te para que sejamos sinceros um com o outro – tu que tanto gosta de verdades como apregoa por aí (mas que sempre desfila com uma máscara na face). Mas, sobretudo, aviso-te, porque quero livrar-me de ser o responsável, o Pequeno diante da Raposa. Porque já não levo comigo mais fardos, eu que um dia os carreguei aos montes, me firmando, me sustentando, me movendo em carregá-los; fardos, pesos, cruz, cargas, responsabilidades, estorvos que me racionalizavam; eu que não sabia ser (eu que ainda não sei). Prometi-me não mais levá-los; carrego apenas meu corpo e minha alma, que cá me bastam, e me superam (e me transbordam). – E tu, tu que não me és fardo ou peso, tu que me és graça, pois tu, é essencial que compreendas meu aviso.