sábado, 14 de julho de 2007

Doces Versos

Ainda não era tarde. Os passos espaçados e ritmados indicavam a pressa daquele que carregava os livros. Um grande volume de livros, verdadeiros alfarrábios de tão grossos. Todos empilhados e apoiados em seu tórax, dificultando de sobremaneira sua caminhada, que mesmo assim era rápida.

Conseguiu, com certo esforço, livrar a mão direita e retirar da pilha o primeiro livro. Era de poesias. Estranhamente, apesar de ser um dos maiores, parecia ser o mais leve. Folheou-o, parando em algumas páginas com poemas curtos. Leu-os, deliciando-se.

Os olhos corriam por cada verso; a alma voava com cada verso.

Recolocou-o na pilha de livros, depois lê-lo-ia com mais calma e atenção.

Seguia. Mas queria parar e perder-se naquelas palavras, naquela Pasárgada – onde tudo era sentimento... sentimento,

Onde tudo era Sol, era Lua, eram pássaros e eram meninas, eram caracóis, eram pãs e ninfas, eram luvas e eram nuvens altas, eram pombos e estrelas, várzeas e sapos, trens e balões, eram isso e aquilo, flores e pica-flores, eram reis e rainhas, copas e paus, barcos e impérios dilatando-se, eram condores e praças, amores que queimam, eram bailes e hálitos virgens, eram braços sagrados, r(R)osas e Marílias, cantos e ventos, céus e almas, era Deus, eram noites e dias e tardes e frias madrugadas, era campo e cidade, vida e morte, era Liberdade, era era era, eram eram eram

E atenção!

Um pé invisível (do Destino, quem sabe? Ou da própria Vida.), repentinamente, antepôs-se a sua marcha. Desequilibrou, tropeçando; os livros fugiram de sua mão em direção ao chão.

Na fração de segundo do acontecimento, chegou a pensar que aquele livro de poesias – tão leve, tão cheio de amor e sentimentos, tão cheio de rimas e métricas e licenças poéticas e arte, tão cheio de leveza – chegou a pensar que não cairia. Planaria no ar, como se ganhasse asas, minúsculas e milhares, do tamanho de cada palavra ali escrita, asas de flamingos e garças; planaria no ar e pousaria suavemente a alguns metros.

“Vê, pequeno.” Numa conjunção adversativa, da dura gramática, os calhamaços foram, todos, ao chão, como suicida desgraçado que se atira do nono andar de um antigo prédio. Caíram todos, rimando na realidade (pura prosa) da gravidade.

3 comentários:

uma vida disse...

Quero ver algo escrito para mim aqui :D

Renata disse...

uau
ahn oi! eu estava olhando comentarios de antigos textos do meu blog e achei o seu, que eu ainda nao tinha passado aqui pra ler =)
E me chamou a atenção duas coisas: o avermelhar que me subiu quando li seu "absurdamente!!" e a maneira leve, natural, quase pintada, com a qual vc tece uma cadeia romanceada. Já vi que daqui vai sir um livro facinho,facinho..pode apostar :D


bem vindo ( com atraso) ao meu mundo virtual!
até mais ver!

Raísa disse...

só tava faltando comentar nesse
:)