- Liberdade? Como se escreve, pai? Como se fala, pai? Pai, Liberdade se sente?... dói? Tem gosto de quê? Deve ter um gosto de vento... Sol? Verei o sol? O mar? As flores... Ah! Em meus olhos caberão tantas divindades, pai? Irei explodir e partir em milhões de pedaços! Cor? Sabor? Ardor? Amor? Esquecer-me-ei dessa imensidão de negro, dessas paredes confusas, dessas rachaduras? Conte-me, mais, pai, conte-me mais. Conte-me das árvores. Dos seios. Dos cabelos. Dos olhos. Dos tecidos. Conte-me da vida lá fora. Quero enrolar-me na vida como um inseto que cai na teia da aranha e começa a se debater, debater, até estar completamente preso, impossível fugir, restando somente à espera pela boca da aranha. Quero ser devorado pela Aranha-Vida, pai, quero que ela me coma todinho, pedaço por pedaço. E, mesmo enquanto ela estiver me comendo, me trucidando, a Aranha-Vida, eu estarei me debatendo, me lambuzando em vida, me afogando em vida, me transbordando em vida! Ah, pai querido. Meus dedos alcançarão tudo. Meus pés correrão tudo. Minha mente abarcará tudo. Eu serei tudo, meu pai, tudo.
Pai, veja, são os pássaros de novo. E quantas penas, pai! As penas caem, pai. São brancas, tão brancas. Como são macias, pai. São muitas, muitas, muitas, muitas, muitas...
Voar, pai? Como os pássaros?
- Ícaro, abre tuas asas, meu filho. VOA, Ícaro! VOA!
Voa e verás mar, terra, sol, céu, meu filho. Voa, Ícaro, que a vida te espera... Voa, filho, o labirinto não mais existe... Voa, Ícaro. Meu menino. Voa!
Flor, bicho, gente, meu filho.
O vinho quente descerá a garganta até inebriar-te. Mastigarás a textura da carne suculenta, o seco do pão, o doce da maçã, o amargo da azeitona. Sim, meu menino, teus olhos explodirão de tanta vida. Tanta vida, Ícaro, tanta vida. Teus pés afundaram em areia, lama, água, pedra. Tuas narinas aspirarão odores mil – salva, menta, hortelã, alecrim, alfazema... Verás a criatividade do homem. À noite, quando é escuro – não, o escuro da noite é lindo, filho meu, lindo – há estrelas e uma lua branca, branca. Ao dia, quando é claro – sim, filho, verás o claro – nuvens, nuvens, nuvens e um sol redondo, imponente. O barulho do mar, sem o eco do labirinto, é uma canção, meu filho, não um lamento. É um riso deslavado, não um consolo longínquo. Teus pensamentos não te assustarão mais, juro-te. Teus braços e tuas pernas passearam pelo universo infinito. Abraçarás, na tua juventude, o mundo e agarrarás com tamanha força e eu rirei, como rirei de ti, meu filho! Gargalharei ao ver tua face sob a vida, tua face vitoriosa, teu sorriso infantil, teus cabelos ao vento. Sim, sim, sim. Dançarás. Dançarás, sentindo cada pedaço de teu corpo, dançarás até tuas juntas doerem e doerem e não se cansarás jamais. Fora do labirinto, serás Deus, meu menino. Esquecerás, sim, esse odor fétido de carne apodrecida... Já te disse, teu nariz não terá tempo... Ah, meu filho! Sentirás pele tão quente quanto a tua a roçar-lhe o corpo, num toque de mãos, num estalar de lábios que se encontram numa eternidade ínfima de tempo. Estrelas estourarão e cairão do céu, sim, sim, meu filho. Acredites, não ria de mim, seu tolo... Quando isso vier a acontecer, dar-me-ás razão... Ícaro! Ver-te-ás num reflexo de fonte qualquer... Conhecer-te-ás... Como és lindo, meu filho. Como és lindo. Tu foste feito para o mundo fora do sofrimento deste maldito labirinto, és de Apolo, Dionísio, Zeus? Não sei, meu filho. És da Liberdade, Deusa mãe!
Pai, veja, são os pássaros de novo. E quantas penas, pai! As penas caem, pai. São brancas, tão brancas. Como são macias, pai. São muitas, muitas, muitas, muitas, muitas...
Voar, pai? Como os pássaros?
- Ícaro, abre tuas asas, meu filho. VOA, Ícaro! VOA!
Voa e verás mar, terra, sol, céu, meu filho. Voa, Ícaro, que a vida te espera... Voa, filho, o labirinto não mais existe... Voa, Ícaro. Meu menino. Voa!
Flor, bicho, gente, meu filho.
O vinho quente descerá a garganta até inebriar-te. Mastigarás a textura da carne suculenta, o seco do pão, o doce da maçã, o amargo da azeitona. Sim, meu menino, teus olhos explodirão de tanta vida. Tanta vida, Ícaro, tanta vida. Teus pés afundaram em areia, lama, água, pedra. Tuas narinas aspirarão odores mil – salva, menta, hortelã, alecrim, alfazema... Verás a criatividade do homem. À noite, quando é escuro – não, o escuro da noite é lindo, filho meu, lindo – há estrelas e uma lua branca, branca. Ao dia, quando é claro – sim, filho, verás o claro – nuvens, nuvens, nuvens e um sol redondo, imponente. O barulho do mar, sem o eco do labirinto, é uma canção, meu filho, não um lamento. É um riso deslavado, não um consolo longínquo. Teus pensamentos não te assustarão mais, juro-te. Teus braços e tuas pernas passearam pelo universo infinito. Abraçarás, na tua juventude, o mundo e agarrarás com tamanha força e eu rirei, como rirei de ti, meu filho! Gargalharei ao ver tua face sob a vida, tua face vitoriosa, teu sorriso infantil, teus cabelos ao vento. Sim, sim, sim. Dançarás. Dançarás, sentindo cada pedaço de teu corpo, dançarás até tuas juntas doerem e doerem e não se cansarás jamais. Fora do labirinto, serás Deus, meu menino. Esquecerás, sim, esse odor fétido de carne apodrecida... Já te disse, teu nariz não terá tempo... Ah, meu filho! Sentirás pele tão quente quanto a tua a roçar-lhe o corpo, num toque de mãos, num estalar de lábios que se encontram numa eternidade ínfima de tempo. Estrelas estourarão e cairão do céu, sim, sim, meu filho. Acredites, não ria de mim, seu tolo... Quando isso vier a acontecer, dar-me-ás razão... Ícaro! Ver-te-ás num reflexo de fonte qualquer... Conhecer-te-ás... Como és lindo, meu filho. Como és lindo. Tu foste feito para o mundo fora do sofrimento deste maldito labirinto, és de Apolo, Dionísio, Zeus? Não sei, meu filho. És da Liberdade, Deusa mãe!
Ícaro, abre tuas asas, meu filho. VOA, Ícaro! VOA!
Voa e verás mar, terra, sol, céu, meu filho. Voa, Ícaro, que a vida te espera... Voa, filho meu, o labirinto não mais existe... Voa, Ícaro. Meu menino. Voa!
Voa e verás mar, terra, sol, céu, meu filho. Voa, Ícaro, que a vida te espera... Voa, filho meu, o labirinto não mais existe... Voa, Ícaro. Meu menino. Voa!
- inspiração: peça-espetáculo "Labirintos", estava em cena no Teatro Vila Velha.
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